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Mortes súbitas cardíacas em atletas aumentaram 2300% após vacinação contra a Covid-19?

22 Dez 2023 - 08:00
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Mortes súbitas cardíacas em atletas aumentaram 2300% após vacinação contra a Covid-19?

Está a ser partilhada, no Facebook, uma imagem com os números que supostamente correspondem aos casos registados de morte súbita cardíaca nos atletas profissionais, entre 2020 e 2023. Na publicação insinua-se que houve um aumento de 2300%, em três anos, devido à vacinação contra a Covid-19.

Na descrição do post, destaca-se a “diferença gritante” entre os valores e define-se as vacinas contra a Covid-19 como uma “droga experimental não segura”. Mas é verdade que as mortes súbitas em atletas aumentaram 2300% depois da campanha de vacinação contra a Covid-19?

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O número de mortes súbitas cardíacas em atletas aumentou 2300% entre 2020 e 2023?

Não. Na imagem em análise é partilhado um link que remete para um comentário editorial intitulado “Morte súbita cardíaca em atletas profissionais”, alojado na edição em português do site do Journal of the American College of Cardiology (JACC). 

Contudo, este comentário foi publicado em 2018, ou seja, antes da pandemia de Covid-19. Além disso, no texto, não foi encontrada qualquer menção à Covid-19, nem à vacinação. 

No texto em causa, o autor salienta a importância do diagnóstico precoce na prevenção de mortes súbitas cardíacas (MSC) nos atletas. 

“Admitindo-se que o desporto de alto impacto, no qual se inclui o futebol profissional, é uma potencial condição para provocar morte súbita cardíaca, é imperativo aplicar nesses atletas medidas eficazes de diagnóstico precoce de anomalias cardiovasculares visando a prevenção dessa ocorrência”, escreve.

Além disso, destaca-se no final do texto, “somente com uma política de rigoroso exame médico admissional e também de avaliação periódica dos atletas de futebol profissional, bem como de outras modalidades, é que poderemos diminuir essa triste ocorrência de eventos cardiovasculares”. 

Este comentário editorial surge em resposta a um artigo com o título “Morte súbita cardíaca nos jogadores de futebol profissional”, em que se lista todas as MSC entre os futebolistas profissionais, entre 2000 e 2017 (ver quadro abaixo).

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Então, a que se referem os números apresentados na imagem partilhada? Tal como também foi verificado pela plataforma de fact-checking Boatos.org, os dados apresentados como sendo casos de mortes súbitas cardíacas são, na verdade, o número de vezes que o comentário editorial foi lido, tanto em formato pdf quanto em html. 

Como se pode ver na imagem abaixo, os dados na secção “informação do artigo” coincidem com os números partilhados na imagem em análise. Em 2023, nos primeiros três meses, o texto foi visto 1843 vezes (762 em janeiro, 675 em fevereiro e 406 em março). 

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Em 2020, o número de visualizações do artigo também coincide com os dados apresentados na imagem (21 em janeiro e 29 em fevereiro e março).

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Em suma, é falso que as mortes súbitas cardíacas em atletas tenham aumentado 2300% devido à vacinação contra a Covid-19, entre 2020 e 2023. Por um lado, o artigo citado não aborda o risco cardiovascular das vacinas contra a Covid-19, uma vez que foi publicado antes da pandemia. Além disso, os dados apresentados correspondem ao número de vezes que o texto foi lido, não dizem respeito aos casos de morte súbita cardíaca de atletas.

Existe um risco cardiovascular associado à vacinação contra a Covid-19?

No site da Organização Mundial de Saúde (OMS), na secção de perguntas e respostas sobre a vacinação contra a Covid-19 e a sua segurança, reforça-se que “os benefícios destas vacinas superam largamente o risco de miocardite e pericardite, evitando hospitalizações e mortes devido à Covid-19”.

Segundo a OMS, o número de casos notificados de miocardite (inflamação do músculo cardíaco) e pericardite (inflamação do revestimento exterior do coração) associados às vacinas foi “muito reduzido” (ver também aqui, aqui e aqui).

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Além disso, acrescenta-se, “os homens com idades compreendidas entre os 21 e os 40 anos são mais suscetíveis de desenvolver miocardite pós-Covid-19, depois da administração das vacinas Pfizer (mais comum) e Moderna, sendo mais frequentemente observada após a segunda dose da Pfizer”.

Contudo, salienta-se, “a miocardite é geralmente ligeira, reage ao tratamento e é muito menos grave do que a miocardite associada à doença Covid-19 ou a miocardite de causas não Covid” (ver também aqui). 

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Assim, “a identificação precoce e o tratamento rápido com medicação e repouso podem ajudar a evitar lesões cardíacas a longo prazo e a morte”, frisa a OMS. 

Por isso, aconselha-se no mesmo texto, “se sentir uma dor no peito nova e persistente, falta de ar, ou tiver um batimento cardíaco acelerado ou palpitante, alguns dias após a vacinação, contacte imediatamente o seu médico”.

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22 Dez 2023 - 08:00

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